Rabo de Peixe

Quando um imaginário citadino olha de esguelha para Rabo de Peixe só encontra estranheza: na forma de vestir, de falar, de estar na rua, até de olhar. “Estão sempre a dizer que somos pobres, vê alguma pobreza aqui?” A pobreza depende muito das lentes de quem a observa. E, sim, num primeiro encontro, víamos pobreza. Mas haverá melhor antídoto para um olhar contaminado do que a proximidade, o toque, a conversa?

Não foram precisos muitos dias para que crianças ao deus-dará se tornassem miúdos que brincam livres, sem medo de rasgar a roupa, atentos “àquele peixe muito bonito que salta alto lá ao longe”. Para que homens ociosos encostados à parede se passassem a chamar Inácio, António, Leonardo, Aurélio…

Pescadores de cara e mãos vincadas, símbolos do trabalho árduo de quem, dependendo das marés, pode ir para o mar às cinco da manhã e só regressar na madrugada seguinte. Para que mulheres de olhar desconfiado sorrissem enquanto detalhavam o orgulho nas tradições e o porquê de Rabo de Peixe ser “o melhor sítio onde uma pessoa pode viver”.

A repulsa visceral do rótulo de “pobrezinhos” não nega a vida difícil, nem a existência de famílias que precisam de ajuda — vivem numa ilha, há poucas oportunidades de emprego e os salários são baixos. Mas quando a estatística os atira para a cauda do país, quem vive em Rabo de Peixe não gosta. E aponta o dedo a dois alvos: aos políticos do continente que nunca vieram cá ouvi-los mais de cinco minutos e aos jornalistas que os retratam como se fossem “animais selvagens”.

Freguesia com maior abstenção nas legislativas de 2024.

Fonte: Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna

Número de habitantes de Rabo de Peixe, a freguesia mais populosa da Região Autónoma dos Açores.

Fonte: Censos 2021




Preferiu o anonimato, 69 anos









Um quarto dos habitantes tem menos de 20 anos, uma população mais jovem do que a média nacional (18%).

Fonte: Censos 2021

Inácio, 20 anos, pescador e armador
Gabi, 40 anos, cabeleireira





A percentagem de habitantes que completaram a escolaridade obrigatória está em linha com a mediana das freguesias nacionais (47%), mas longe da freguesia com maior proporção de residentes com o 12.º ano, as Avenidas Novas, em Lisboa (87%).

Fonte: Censos 2021

Idalta, 47 anos, trabalhadora fabril



Nona freguesia de Portugal com maior percentagem de habitantes a receber o Rendimento Social de Inserção (RSI) — 489 pessoas de um total de 6280 residentes maiores de 18 anos. Monforte da Beira, em Castelo Branco, é a freguesia com a maior proporção de pessoas (20%) beneficiárias de RSI.

Fonte: Censos 2021







Pedro, 47 anos, pescador

Quinhentas e cinquenta pessoas trabalham no sector da agricultura e das pescas. Um número seis vezes superior à média nacional.

Fonte: Censos 2021

Cidália, 67 anos, reformada
Mauro, 36 anos, empregado de balcão












Artur, 44 anos, professor

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