Paradamont
Os guarda-chuvas coloridos, pendurados à porta da igreja, denunciam o ponto de encontro de Parada do Monte. Do lado de dentro, as dezenas de pessoas que se juntaram para ouvir a homilia do padre Raul contrastam com as ruas desertas da aldeia, onde, nesta manhã de domingo, não se encontra vivalma.
As aldeias de Parada do Monte e Cubalhão casaram em 2013 e são hoje uma só freguesia, mas a fronteira entre ambas é bem definida pelos residentes. Em Parada do Monte, o dinamismo dos mais jovens é uma espécie de turbina que põe tudo a mexer: organizam celebrações religiosas, actividades desportivas, gostam do sítio a que chamam seu. Já em Cubalhão, as casas abandonadas e a população envelhecida são o reflexo da emigração e do êxodo. O café-convívio fechou há mais de um ano e o fumeiro é agora o único comércio da aldeia.
Quem aqui vive não tem dúvidas: “Cubalhão é uma freguesia a desaparecer.”
Os terrenos das brandas na parte alta da freguesia, os campos de cultivo e as hortas que polvilham os quintais das casas com batatas, couves e hortaliças garantem que não falte comida à mesa. Há seis meses fechou a única mercearia da freguesia e o mercado de Melgaço, a 16 quilómetros, é o sítio mais próximo para fazer compras. Os vizinhos com carro e os vendedores ambulantes ajudam a preencher esta lacuna.
Parada do Monte e Cubalhão foi a freguesia com maior abstenção nas eleições autárquicas de 2021. Os emigrantes que aqui continuam recenseados, apesar de só voltarem à terra uma ou duas vezes por ano, são os responsáveis por este fenómeno: “Venha cá em Agosto e vai ver que há muita gente.”
“É difícil tomar decisões porque há cada vez mais partidos, e as campanhas eleitorais não são muito esclarecedoras. Há 40 anos, havia mais analfabetos, mas os debates políticos eram longos. Agora, há mais escolaridade, conseguimos perceber o que se está a passar, mas os debates são muito limitados no tempo. É difícil perceber as propostas de cada partido. Mas uma coisa é certa: se as atitudes não mudam, não podemos estar à espera de resultados diferentes. Se as coisas não estão a correr bem, é preciso procurar alguém que faça melhor.”
Alexandra, 28 anos, farmacêutica
70%
Freguesia com maior abstenção nas eleições autárquicas de 2021.
Fonte: Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna
Pureza, 72 anos, agricultora reformada
“Costumo ir votar, mas este ano não vou. O meu voto não ganham. Enchem a carteira e uma pessoa tem de viver com 200 euros? Sou reformada, mas ainda trabalho — se quero comer, não tenho outro remédio. As despesas são muitas, o preço das coisas sobe cada vez mais. Há um ano, íamos com 50 euros à vila [Melgaço] e ainda trazíamos qualquer coisa, agora não trazemos nada para casa. Criamos frangos, coelhos e vamos trabalhando, se não morríamos à fome. Perdemos logo a vontade de ir votar. Uma pessoa que recebe um salário mínimo… para que é que dá o salário mínimo?”
“Vou sempre votar. É um dever. Não sei se voto bem, ou se voto mal, mas voto naquele que me agrada. Antigamente, votava sempre no mesmo partido, mas mudei. O presidente da junta era da minha família, convidou as pessoas para o partido e eu fui: era do PSD, virei para o PS.”
Dorinda, 76 anos, agricultora reformada
477
População residente em Parada do Monte e Cubalhão.
Fonte: Censos 2021
893
Número de pessoas inscritas para as eleições autárquicas de 2021 em Parada do Monte e Cubalhão.
Fonte: Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna
Joel, 31 anos, engenheiro mecânico
“Somos uma freguesia de muita emigração. Mas as pessoas mantêm a residência principal aqui e, por isso, os cadernos eleitorais estão desactualizados. Antes do dia das eleições, metade da abstenção já está garantida.”
“Eu respondo por mim, voto sempre. Mas vive aqui pouca gente, está tudo pelo mundo fora. Tenho três filhos e seis netos e não tenho cá um comigo, estão todos na França e uma neta está em Braga. Estou sozinha há 21 anos. Os meus filhos vêm no Verão e no Natal, às vezes eu também vou lá. Se estivesse a trabalhar ou soubesse falar a língua, tudo bem. Mas para estar presa em casa, prefiro ficar na minha casinha, sempre vamos conversando uns com os outros. No meu tempo havia muita mocidade no lugar de Cubalhão, rapazes e raparigas juntavam-se a pessoas com mais idade. Era uma alegria, agora é uma tristeza.”
Irene, 76 anos, agricultora reformada
81%
Percentagem de pessoas que residiram em França, por pelo menos um ano, e regressaram a Portugal entre 2016 e 2021. França é o país com o maior número de emigrantes desta união de freguesias desde a década de 1970.
Fonte: Censos 2021
Manuel, 65 anos, servente de pedreiro
“Diziam que Salazar não deixava o povo emigrar. Mas os antigos dizem que muita gente foi para França a pé. Depois houve mais liberdade, uma vida melhor. Nasci em Parada, mas a minha vida é lá fora, na França. A vida aqui não se ganha como lá. Votar ou não votar, é tudo igual. Agora há pouca gente: nós vamos morrendo, os novos emigraram, a maior parte está fora do país.”
“Não sou emigrante, sou migrante. Trabalho em Braga, mas todos os fins-de-semana estou em Parada. São as raízes que nos chamam. A minha família, os meus amigos desde pequenina, estão aqui. Os valores que defendemos, as causas por que lutamos, as pessoas que ajudamos no dia-a-dia… Numa cidade é completamente diferente, nós fomos criados com o valor da pertença. Parada, no fundo, é nossa. E é nossa porquê? Porque Parada não é uma freguesia que tenha turismo. Não é uma freguesia onde passe uma estrada de passagem, para sair daqui é preciso voltar para trás. É aquilo que os nossos antepassados construíram e deixaram, sentimos como uma herança.”
Sandra, 39 anos, educadora de infância
52%
A população com mais de 65 anos é duas vezes maior do que a média nacional (24%).
Fonte: Censos 2021
“Acho que votar é um direito, por isso, temos de o exercer. Podemos ter dúvidas, estar descontentes com todos os partidos, não gostar de nenhum, não entender bem o que está a ser comunicado — acho que, muitas vezes, o que acontece é que a população mais envelhecida já desligou. É sempre a mesma coisa, já não ouvem as novas propostas e, quando vão votar, nem sabem muito bem em quem… Mas acho que devem ir na mesma.”
Raquel, 30 anos, optometrista
“Ainda estou indecisa — PS ou PSD. Vou ouvindo o que eles dizem, prometem tudo e mais alguma coisa. Todos prometem. E nós vamos vivendo das pensões. A população está envelhecida e não há quem trabalhe porque os mais novos emigraram. Olhe os campos, isto era do melhor que havia, e agora…”
Celeste, 72 anos, doméstica
81%
As eleições europeias são as eleições com maior abstenção na União das Freguesias de Parada do Monte e Cubalhão.
Fonte: Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna (Eleições de 2019)
“A Europa é uma realidade distante, os nomes são desconhecidos, as pessoas não reconhecem as caras. As eleições europeias podem ter, por isso, menos adesão. Nas autárquicas conhecem-se as pessoas, nas legislativas sabe-se quem é o candidato, associam-se as caras, os nomes, os partidos. Aquilo que os líderes fazem numa autarquia é muito mais próximo, tem um impacto directo na vida das pessoas, e ainda mais dos mais velhos.”
Alexandra, 28 anos, farmacêutica
“A política desilude as pessoas. O voto deveria ser obrigatório, porque, mesmo contrariadas, as pessoas iriam votar.”
Carlos António, 66 anos, empregado de balcão
1%
É uma das freguesias com menor taxa de desemprego de Portugal. Tem apenas uma pessoa desempregada.
Fonte: Censos 2021
26%
A construção é o sector económico que emprega mais pessoas.
Fonte: Censos 2021
“Não precisamos de sair da freguesia para construir uma casa. Temos gente competente para fazer tudo desde a fundação até à fechadura da porta. Só não temos indústria para fazer certos produtos, mas de resto…”
Ricardo, presidente da junta
“Em Parada do Monte há muita gente, muitos jovens. Fazem obras, ajeitam os telhados, renovaram a igreja de Cubalhão. Há de tudo: pedreiros, carpinteiros, electricistas, todas as especialidades. Aqui em Cubalhão não é assim, mais três ou quatro anos e não vive aqui ninguém. São só casas fechadas.”
Dorinda, 76 anos, agricultora reformada