Feteiras

Durante a semana, o silêncio das ruas desertas só é interrompido, muito de vez em quando, pelo rebuliço das crianças no recreio da escola, pela passagem do tractor agrícola e pelos passos de alguém a caminho da farmácia ou do centro de saúde. Os cafés estão vazios, e são poucos os carros que se vêem a circular. A maioria das pessoas que faz de Feteiras casa, trabalha em Ponta Delgada, a capital da ilha de São Miguel, e só regressa ao fim da tarde.

Mas, quando os sábados amanhecem e o fim-de-semana começa, a freguesia parece outra: abrem-se os portões e as janelas das casas, aspiram-se e lavam-se os carros, os miúdos andam de bicicleta na rua e o burburinho das conversas passa a ser a banda sonora que se impõe.

A pobreza de que muitos falam, mas que não se vê, esconde-se na vergonha de quem não tem meios para pôr comida na mesa e, ainda assim, se recusa a pedir ajuda.

A falta de trabalho é um problema latente e quando se trata de encontrar culpados, são muitos os que apontam o dedo às “ajudas externas” do continente e da Europa: “Aqui, nos Açores, há subsídios para tudo e isso só nos prejudica. Quando é preciso alguém para trabalhar, não se encontra. Dantes, produzíamos de tudo, agora, estamos dependentes. Compensa mais estar parado, sem fazer nada”, critica Sérgio, 56 anos, um “homem anti-sistema”, nas palavras do próprio.

Num território insular, onde a maioria da população está em idade activa, a direcção do futuro aponta para o lado oeste do Atlântico, sobretudo para os Estados Unidos e o Canadá, onde vivem muitos dos emigrantes de Feteiras. Para trás, deixaram casas há anos fechadas, que os residentes garantem ser a chave para “resolver o grande problema da falta de habitação” — se em vez de serem transformadas em alojamentos locais, fossem alugadas a preços que se pudessem pagar. 

Feteiras foi a terceira freguesia com maior abstenção nas eleições europeias de 2019.

Fonte: Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna

Sérgio, 56 anos


Rendimento médio mensal de quem vive na freguesia, após os descontos, um valor abaixo da média nacional (1002 euros).

Fonte: Censos 2021

Filomena, 60 anos, comerciante













A percentagem de habitantes que recebem o Rendimento Social de Inserção (RSI) está distante da freguesia com mais beneficiários per capita — Monforte da Beira, em Castelo Branco (20%).

Fonte: Censos 2021

Helena, 62 anos, empregada de limpeza

Mais de metade dos habitantes trabalham noutra freguesia do município (452).

Fonte: Censos 2021










Maria José, 62 anos, professora


Os Açores são a região com a mais alta taxa de abandono escolar precoce da União Europeia. Representa um em cada quatro jovens, entre os 18 e os 24 anos, o triplo da média nacional (7%).

Fonte: Inquérito ao emprego do Instituto Nacional de Estatística e Eurostat (2021)













Pedro, 30 anos, agricultor





Mais de metade da população não votou nas eleições legislativas de 2024.

Fonte: Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna

Número de eleitores que não votaram nas legislativas de 2024. A abstenção desceu 10% e o Chega foi, pela primeira vez, o partido mais votado (30,6%).

Fonte: Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna

Maria José, 62 anos, professora




















A maioria dos residentes tem casa própria.

Fonte: Censos 2021

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