Almancil

Almancil é um simulacro das desigualdades do mundo. 

De costas viradas para o Atlântico, nos limites da Estrada Nacional 125, acontece aquilo a que se pode chamar “a vida normal”: há escolas, parques, mercearias, cafés e restaurantes para diferentes gostos. Circulam pessoas de uma classe trabalhadora que por aqui vai ganhando a vida, e que acusa o Governo de só se lembrar do Algarve quando faz sol. Queixam-se de serem postos à margem: “É como a comida de que não gostamos e deixamos à borda do prato”, descreve Silvana, 59 anos, técnica de serviço educativo.

À medida que nos afastamos do centro da vila, em direcção às praias, a paisagem muda: os prédios são substituídos por vivendas de luxo com piscina, homens de viseira com pala polvilham extensos relvados de golfe, as estradas e passeios mal pavimentados dão lugar a um chão de pedra que, de tão impecavelmente calcetado, custa a crer ser real. Estamos na Quinta do Lago e em Vale do Lobo, dois dos resorts mais luxuosos de Portugal, onde a língua franca é o inglês e o acesso é restrito.

Pede-se a quem vive no Algarve, a região do país mais afectada pela falta de água, um esforço individual para reduzir o consumo. Mas é na Quinta do Lago e em Vale do Lobo que se regista o consumo doméstico mais alto de Portugal continental. As equipas de marketing destes resorts vendem-nos como “dos mais eficientes”, mas os números divulgados pela Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos dizem que os seus consumos ultrapassam centenas de litros outras regiões de Portugal. 

“Para perceber Almancil é preciso compreender as duas realidades tão diferentes que nos rodeiam: a de quem tem muito dinheiro e não precisa de sair da Quinta do Lago para fazer nada e a dos imigrantes mais pobres que partilham o espaço público com as pessoas daqui”, esclarece o presidente da junta de freguesia, Joaquim Pinto.

Ana, 51 anos, arquitecta
Beta, 49 anos, talhante
Luís, 54 anos, técnico de acção educativa

Mais de metade da população de Almancil não votou nas eleições autárquicas e nas  presidenciais de 2021, nem nas europeias de 2019.

Fonte: Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna

Alex, 23 anos, pintor
Ermelinda, 61 anos, vendedora de produtos alimentares
Victor Jorge, 68 anos, empresário

A população a trabalhar por conta própria em Almancil está acima da média nacional (20%).

Fonte: Censos 2021

Ana, 51 anos, arquitecta
Diana, 21 anos, estudante universitária

Percentagem de população estrangeira a residir em Almancil. A maioria dos estrangeiros são romenos (24%) e britânicos (20%).

Fonte: Censos 2021

Na Escola Básica Dr. António de Sousa Agostinho há alunos de 30 nacionalidades diferentes.

Fonte: Junta de Freguesia de Almancil

Ana, 51 anos, arquitecta
Ricardo, 27 anos, comerciante

Percentagem de residentes que votaram nas eleições legislativas de 2024. A abstenção baixou mais de 10% face às legislativas de 2022. O Chega foi o partido mais votado (30%).

Fonte: Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna

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